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A Arte de Fingir e o Mimetismo Humano

A Arte de Fingir Fingir, sinônimo de mentir, em sã consciência para obter benefício a si mesmo. Para o senso comum, fingir pode valer, assim como os ‘meios’ justificam os ‘fins’, invertendo a máxima de Maquiavel. Para os moralistas ou puritanos, fingir sempre carregou uma carga pejorativa. Fingir significa de imediato enganar, simular, blefar. “Mas quem nunca se enganou?”, perguntaria você. Engano tem haver com errar de impressão, interpretar errado, ter posse de um conhecimento sobre algo e na hora de identificá-lo, trocar de reconhecimento. Em todo jogo existe espaço para o ‘enganar’. Faz parte o blefe, a finta, tão comum no futebol, no vôlei, no basquete, práticas esportivas que são, logicamente, atividades lícitas. E o que você diria então de blefar em um relacionamento, em um jogo, blefar, enfim, na rua, ‘ser aquilo que você não é’, estar vivendo em não acordo com seus próprios valores éticos e morais, para benefício próprio? Alguém poderá dizer que a vida depende desse simular, mas enganar, ou pior, dissimular para induzir, seria algo errado? Uma fronteira tênue, não? A especulação joga com isso. Especula-se que uma determinada área no mar é rica em petróleo e assim, essa área irá valer muito, quem adquirir ações da empresa possuidora da área poderá enriquecer rapidamente. Para isso juridicamente a empresa deve atestar com legitimidade que aquela área tem comprovadamente tal riqueza. Recentemente um caso assim ocorreu no Brasil e uma empresa foi do céu ao inferno em pouco tempo. Então formalmente fica claro que enganar poderá gerar graves conseqüências. A lei tem o papel de assegurar as condições, em que a fronteira do certo e do errado se estabelece. Mas e o que é subjetivo? Viver é cercado de escolhas que podem nos aproximar ou nos afastar de vez da nossa essência. Uma das polaridades que as pessoas oscilam é entre o animal e o humano que em nós habita. Agir pelo instinto ou pela razão, irá definir nosso grau de civilidade. Mas com o passar da história percebemos que quando faltam alimentos e o mínimo de condições de viver em um lugar a barbárie sutilmente começa a mostrar suas unhas, da noite para o dia. A condição no planeta vem carregando condições cada vez mais pesadas. Segundo pesquisas da NASA, o ano de 2015 foi o mais quente de toda a história, com a média de temperatura mais alta. O aumento da temperatura, e das conseqüências funestas de uma exploração voraz da natureza, sobretudo por intoxicações de diversos calibres, reforça essa idéia. E a barbárie quando se aproxima traz uma força de desestabilização entre o animal e o homem, pendendo para o lado mais hostil por vezes, mais agressivo e bruto da nossa pedra que o movimento civilizatório tende a burilar, refinando as relações, tornado-nos mais polidos uns com os outros. Ressurge então velhas crenças, por vezes implacáveis e preconceituosas, que há tempos velam nossos instintos. Em meio a todo o avanço nas relações sociais um único retrocesso funciona como um tsunami em nossas emoções. O Mimetismo Humano Tenho a impressão que vivemos hoje uma época de intenso relacionar com os aspectos animais. Em pleno século XXI, estamos explorando ao máximo as possibilidades instintivas no nosso cotidiano. Quando penso em mimetismo, o primeiro animal que me vem à mente é a de um camaleão, um réptil. Com cerca de quatro mil espécies no planeta, os répteis tem uma curiosa história. São ‘descendentes’ dos peixes, eram animais então aquáticos e como tais respiravam por brânquias. Na evolução natural, foram desenvolvendo pequenas patas, como os girinos, e alterando seu modo de respiração e alimentação. Os girinos, como se sabe, são os filhotes das rãs e dos sapos. Mas esse pequeno texto introdutório serve apenas a título de ilustração. É por que me lembro que em alguma explicação da evolução das espécies, viemos, nós os seres humanos, dos répteis, e não dos macacos. E como se sabe, uma das maiores características dos répteis é o mimetismo. Mimetismo, segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, significa fenômeno que consiste em tomarem diversos animais a cor e configuração de objetos em cujo meio vivem. Contudo, essa palavra me veio à mente para relatar outro tipo de experiência. A experiência de simular uma atitude, supostamente mimetizada, para influenciar na atitude de outro ser. Aproveito então para reforçar o caráter social de nossa caracterização ‘externa’. Segundo a idéia, nossa forma de cortar o cabelo e de vestir-se, e manter os pêlos cortados, ou não, vão de encontro à estima de comportamento cuja finalidade é de adequação as convenções sociais na intenção de ser respeitado, e evitar preconceitos, facilitando assim nossa sobrevivência em sociedade. Um pássaro vive mais por mimetismo, do que por uma aparência condicionada ‘socialmente’. Sua identidade visual é fixa, não se altera não se submete a uma moda, a uma convenção. Um modo de se vestir indica o poder de sugestão de conduta, de comportamento e até de temperamento. Simulação Essa técnica como podemos chamar a simulação, é chamada de outros termos, como por exemplo, finta, no futebol, na luta, e remete ao fingir, ao fazer como se fosse verdade. É uma ‘técnica’ apurada, não muito comum a todos os animais, sendo restrita a grandes predadores como a onça, o tigre, o leão, e todos esses famintos predadores que compõem a parte mais elevada da cadeia alimentar. Eu simulo ir ao ponto A para trabalhar, com a intenção real de observar ou fazer algo no meio do caminho. Visto com a roupa de operário para ter livre passagem, de gari para passar quase despercebido, vou à igreja para dar a idéia de que sou uma pessoa puritana; estas são hipotéticas situações para que enxerguemos até onde pode ir à astúcia. Astúcia é uma palavra relacionada à esperteza, estratégia, inteligência, improviso também. Necessidades vitais, como se alimentar podem sugerir de imediato uma ação que requeira simular. Curiosamente existe um preconceito com o ator relacionado à simulação. Ele não simula, engana, pelo contrário ele segue um roteiro corporal e de ações que vão fazer o público compreender a intenção de seu ‘papel’. A boa interpretação está relacionada a essa boa mímica, a pantomima (arte ou expressão por meio de gestos, mímica), a entonação correta da voz, e tudo isso se afasta da simulação, no sentido claro da palavra, que se relaciona com superficialidade, senso de oportunidade. É claro que temos os tipos clássicos, firmados nos convívios sociais, o que arriscaria chamar de arquétipo, termo cunhado por Carl Gustav Yung, estudioso do inconsciente coletivo. Um desses tipos é o pantaleão, personagem-tipo ou máscara da commedia dell’arte e da antiga comédia francesa que representa o protótipo do cidadão simples e pai bondoso, ou do velho avarento, crédulo, libertino, meticuloso e sempre vítima do Arlequim, do Escapino, e de outras personagens. Foi levada ao teatro francês no século XVII por Molière em sua comédia As Artimanhas de Escapino e que representa o jovem astuto.matreiro e instigante, as mais das vezes desempenhando o papel de criado, como nos revela o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Uma última curiosidade: em uma reunião anual em Davos, na Suíça, para avaliar a qualidade de vida no mundo, o Brasil ficou em vigésimo lugar em uma escala entre sessenta países. Alemanha, Canadá, Reino Unido e EUA foram os primeiros. O valor atribuído ao Brasil foi ‘aventura’, além de conceitos como ‘feliz’, ‘sexy’, e ‘amigável’.

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