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SP ou Tons de Cinza

Primeiro Capítulo: Reconhecimento [Monroe, o assassino quis esconder a identidade da vítima. Por isso cortara todos os dedos e separados, jogara-os os no rio Tietẽ. A cabeça, libererara no marco Zero da cidade paulistana, a praça da Sé. O corpo fora jogado em uma calçada de um bairro da classe média, depois de subir por diversas ruas; escolhera um jardim da Rua Sergipe. Os membros foram carregados antes e deixados em meio a galhos de uma árvore caída, como algo que agarrara. Seria ele de Sergipe. Seu rosto estava escondido pelo ângulo que se colocara na calçada da câmera que levava à Rua Sergipe. Tinha um jeito inculto, andava sobre um chinelo estilo livre, de alças brancas, mas seus passos eram arrastados, em estilo 'dez pras duas'. _ Dez pras duas. (Pernanbuco gritou) Essa foi a frase misturada ao fumo de cigarro que subiu logo cedo, naquela terça inóspita, fria e molhada na cidade mais cinza do País. Isso dificultara o reconhecimento do algoz. ] Esquartejamento. Fazia frio naquele início de manhã. E jogado na lama, o corpo deixava seu fluido misturar-se a terra, e na posição que estava, parecia equilibrar o que dentro estava. Seu cabelo, quer dizer', os pêlos da cabeça da pessoa depositada, estava engomado com a terra, seus dedos curvados pra dentro em 'posição de ódio', e justamente em confronto com aquele 'close' dos dedos, Monroe resolveu poupá-los logo 'de cara'. Sangrava como um porco. O vigésimo primeiro corte foi na virília direita depois a esquerda, sempre com um preciso gesto. Ele carregava aquele matadouro ao lado, de quando morava na Rua Virgínia Souza, no Bairro da Bomba. Ouvia em sua lateral direita o vizinho que com seu 'fundo de garrafa' tocava a música do hino do Brasil e do Flamengo' todos os dias pela manhã, o que o aliviava os pesadelos, ao acordar. Assim, o que era martírio pra uns era uma benção pra ele, que sofria em imaginar as duas canções imendadas, mas que de manhã, 'até que caia bem'. Lanche. Mesmo calmo, ele viu seu primeiro algoz arrancar-lhe o direito ao conforto logo cedo, “mesmo aos quase quarenta”. Seu café cuado há meia hora já oxidava. Cigarrão formado, cruzou as pernas e com o copo de café ,sentado na porta da cozinha, na frente da porta verde, por onde Dingo vibrava em seus primeiros meses de vida, ele esticou a vista em contra-plouge, e achou que cometera um desvario. A travesti tinha um jeito bonito, meio Emília, famoso personagem de Monteiro Lobato no Sítio do Pica Pau Amarelo e que tinha por caracterização suas tranças coloridas, seu jeito espivitado que chegava sempre antes do sorriso, ou da zanga. Fruta-pão. Pernambuco foi enfático: um crime desses tem uma causa de igual teor. Foi com seu passo marcado como um maracatu ao bar mais perto, onde em uma época precedente a vida de 'investiga', encontrava os 'guerreiros': irmãos da terra de Chico Science, e que no fim da tarde refestelavam com trocados provenientes da lavagem de veículos ao redor do centro da cidade. Era comum interessar-se por crimes de características violentas. Lia Agatha Christie desde os tempos remotos, literatura barata, em comparação com Edgar Alan Poe, autor que tornou-se preferido depois que segurou de vez a carteira preta. Olhou ao redor, e ainda via a mesma cena. Procurava como criança uma pista que só ele pudesse ler, um cheiro, como desenho animado que viesse invisíveis aos olhos dos colegas. Mas a carreira de leitor de signos invisíveis não era assim. Funcionava como uma embriaguez, com direito a ressaca, e nesse momento, por um estalo na memória, deveria sincronizar os sentidos e voltar a 'pintar'' sua cena. Pernambuco trabalhou de pintor auxiliando seu pai, ainda em Camarajibe. Perguntou pra si mesmo por que não havia nascido em Olinda, por que não era antigo, por que algum daqueles idosos formidáveis, inventaram de plantar muitos pés de fruta-pão e pronto – estava saciado de resposta. Por ora. O Encontro Por ele apaixonou-se no mesmo intervalo do olhar quando de bicicleta locomovia-se. Na verdade pensava que era mulher, mas eram ambos do sexo masculino.  Vou passar-lhe a rola - disse o sucateiro, em sua bicicleta lustrosa, seu bem mais novo. Talvez justificasse assim seu lado extrovertido. Naquele momento. Pouco demorou pra que fosse levado na caxandra, mistura de pérola e lugar pequeno, na lente dele. Dele que não é mais. Talvez por conta do falo, deixou confundir-se com ele, aquele travesti tão hábil, era isso o que chamara sua atenção, e que o fez declinar seus princípios de padrão social. Assim depois de duas oou trẽs semanas passando por aquela rua ou por outra a figura daquela mulher de costas loira a olhar pra trás com estonteante olhar ia e vinha em sua imagem e ele como peixe, fisgou-se. Trataram-se como amigos pra amenizar o distanciamento e logo o espaço tornou-se um palco iluminado onde luzes não preenchiam escuros. Ela trabalhava de noite e durante o dia a vida dela era dedicada a repor forças, ao lado dele.

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